Sunday, December 14, 2025
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GRITO SILENCIOSO DOS CAMPONESES DE NHONGONHANE

Há anos que os camponeses de Nhongonhane vivem entre a fertilidade da terra e a dificuldade de escoar o que nela produzem. A comunidade, situada na província de Maputo, sente-se esquecida, apesar de contribuir diariamente para o abastecimento alimentar da região. Em Outubro de 2025, o clamor silencioso transformou-se em voz mais firme, quando agricultores locais voltaram a expor um problema antigo: as estradas em mau estado que impedem o acesso aos mercados.

O solo é fértil, a produção é variada e abundante. No entanto, sem vias transitáveis, “produzir não é suficiente”. O que se colhe não chega ao consumidor em condições, o rendimento não chega ao produtor, e o desenvolvimento não chega à comunidade. Foi neste contexto que a Revista Tempo deslocou-se ao local para ouvir de perto as histórias de quem depende da terra para viver.

Dona Rita, 61 anos, conhece bem o peso dessa luta. Acorda todos os dias às quatro da manhã para cuidar da sua machamba.

“Planto couve, feijão, alface, batata-doce e também folhas. Mas muitas vezes não consigo vender nada. Os carros não chegam até aqui. Hi pfunani!”, desabafa, cansada.

Inácio Magaia, camponês com apenas um ano de experiência, já sente o impacto da precariedade das estradas.

“Esforçamo-nos para produzir, mas o produto estraga-se antes de chegar ao mercado. Para ir ao Zimpeto dependemos dos chapas. As mulheres saem de madrugada, carregadas de mercadoria, tentando chegar antes das cinco. Mesmo assim, muitas vezes a qualidade já não é boa.”

A dificuldade não está apenas no transporte, mas também nas relações de venda. O senhor Ibrahimo, proprietário de uma extensa machamba, explica que, mesmo quando conseguem chegar ao mercado, nem sempre o agricultor tem voz.

“No mercado do Zimpeto, não és tu quem vende o teu produto. Eles mandam: ‘Encosta aqui’. Quem não obedece sofre represálias. Eu arranjei uma esquina e vendo por minha conta. Cansei de ilusões”, afirma.

A situação de Nhongonhane não é isolada. Ela revela uma questão maior: a ausência de políticas eficazes de apoio à produção agrícola familiar e a falta de investimento em infra-estruturas que integrem o campo à economia.

Melhorar as estradas de Nhongonhane não é apenas uma necessidade logística.
É garantir inclusão social, dignidade no trabalho, circulação justa de alimentos e futuro para quem produz.

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