[ai_summary timestamp=”08/11/2025 às 11:30″ summary=”A III Conferência de Comunicação e Informação, organizada pela Escola Superior de Jornalismo (ESJ) e coordenada pelo Centro de Pesquisa em Ciências da Comunicação e da Informação, terminou na sede do Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ). Manuel Simão apresentou um painel sobre a cobertura das manifestações pós-eleitorais nos jornais Domingo e Savana, destacando as diferentes abordagens editoriais e a influência na tratamento dos direitos humanos e da liberdade de expressão na imprensa moçambicana. Titos Sitole abordou o papel da rádio universitária como ferramenta pedagógica e de engajamento comunitário, salientando a importância da sua existência para o desenvolvimento local. A conferência reforçou o papel da ESJ como espaço de reflexão crítica sobre os desafios da comunicação, jornalismo e direitos humanos em Moçambique.”]
A III Conferência da Comunicação e da Informação, organizada pela Escola Superior de Jornalismo (ESJ), teve início no dia 5 de novembro, na sala de Conferências Rovuma, no Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), em Maputo. O evento reuniu investigadores, académicos e profissionais da comunicação num espaço de reflexão sobre o papel da informação na consolidação dos processos democráticos e os desafios impostos pela era digital.
O primeiro painel, realizado entre as 13h00 e as 14h30, foi moderado pelo Professor Doutor Elias Djive e teve como orador principal o Professor Catedrático Elísio Macamo, que apresentou o tema “Comunicação e Informação: Seu contributo na consolidação de processos democráticos”.
Na sua intervenção, Macamo destacou a relação intrínseca entre o jornalismo e as ciências sociais, afirmando que ambos “ajudam a pensar as condições de validade das nossas próprias palavras”. O académico advertiu, contudo, para o perigo da superficialidade comunicacional contemporânea: “Hoje, a comunicação tornou-se simultaneamente mais fácil e mais superficial. As redes sociais, a velocidade das notícias e o imediatismo das reações criam uma aparência de vitalidade democrática. Todos falam, todos comentam. Mas essa aparência esconde a incapacidade de distinguir o essencial do acidental, o político do técnico. E isso é, para mim, uma fragilidade muito grande.”
O segundo painel, que decorreu das 14h30 às 16h00, foi moderado pelo Professor Doutor Augusto Macucule e contou com um conjunto diversificado de apresentações.
A investigadora Ana Chongo abriu o painel com o tema “Impacto do Facebook na visibilidade das notícias: coberturas dos semanários moçambicanos em períodos pós-eleitorais”, onde analisou o papel das redes sociais na circulação e visibilidade das notícias em contextos eleitorais.
Seguiu-se a dupla Dr. Inácio Fulau e Dr. Paulo Manjate, com a comunicação “Democracia em disputa: Uma análise crítica do papel dos media na construção ou negação pública em Moçambique”, discutindo o modo como os media moldam a perceção pública da democracia.

O painel encerrou com a apresentação do jornalista e investigador Dr. Romeu Carlos, intitulada “Do Gatekeeping ao Gatewatching: A transmutação do processo de selecção de notícias nos períodos eleitorais em Moçambique”. O investigador defendeu que os media tradicionais coexistem hoje com novas formas de seleção e monitorização de informação, protagonizadas por cidadãos e grupos nas redes sociais.
“Tivemos uma coexistência do gatekeeping tradicional e do gatewatching, sobretudo por parte dos observadores eleitorais. A notícia não é um produto acabado. Deve passar por um processamento; receber, filtrar, analisar e só depois divulgar”, afirmou.

Romeu Carlos sublinhou ainda que “os gatewatchers não são desnecessários”, reconhecendo a sua importância na integridade dos processos democráticos, mas alertou para o risco de desinformação e polarização quando assumem “a hegemonia da narrativa pública”.
“Num novo cenário informativo, temos de equipar os cidadãos com habilidades críticas para navegar num ambiente digital complexo. É preciso promover uma educação mediática sólida, com o envolvimento das escolas, dos meios de comunicação e das instituições de ensino superior”, concluiu.
No encerramento do primeiro dia, o Director da Escola Superior de Jornalismo destacou que a conferência representa “uma oportunidade ímpar para o diálogo entre teoria e prática”, reforçando o compromisso da ESJ com a produção científica e o pensamento crítico. “Este é um espaço onde estudantes, profissionais e académicos dialogam e constroem o pensamento das ciências da comunicação em Moçambique”, afirmou.
Assim, a III Conferência da Comunicação e da Informação reafirmou, desde o seu primeiro dia, o papel da ESJ como centro de reflexão e investigação sobre os desafios contemporâneos da comunicação, da informação e da democracia moçambicana.
O último dia foi marcado pela apresentação de vários painéis de investigação, entre os quais o do orador Manuel Simão, com o tema “Jornalismo e Direitos Humanos: Um olhar para a cobertura das manifestações pós-eleitorais na imprensa moçambicana (2024-2025)”.

Na sua exposição, Simão analisou a forma como diferentes órgãos de comunicação do país, com distintas linhas editoriais, abordaram as manifestações ocorridas após o período eleitoral. O estudo baseou-se na teoria do Agenda Setting e examinou aspectos como a saliência, os enquadramentos jornalísticos, o uso de fontes e as narrativas dominantes.
Segundo o investigador, as diferenças de orientação editorial influenciam directamente a forma como os direitos humanos e a liberdade de expressão são tratados na imprensa moçambicana, destacando a importância de promover uma cobertura mais equilibrada e plural sobre temas sensíveis da esfera pública.
Outro destaque da conferência foi a comunicação de Titos Sitole, que apresentou o tema “O papel da rádio universitária como instrumento pedagógico e de engajamento institucional e comunitário: o caso da Universidade Pedagógica de Maputo”.

A pesquisa defende que a rádio universitária é um espaço de extensão académica, ferramenta de ensino prático e plataforma de desenvolvimento local. Sitole salientou que a inexistência de uma rádio universitária devidamente equipada limita a aprendizagem prática e o envolvimento comunitário das universidades moçambicanas. Durante a apresentação, o orador destacou ainda que as web rádios têm transformado o panorama da comunicação académica, permitindo maior alcance, qualidade sonora e interactividade.
A conferência incluiu também o painel de Hassina Vasco, com o tema “A influência do comportamento da voz e do silêncio dos colaboradores no desempenho e motivação organizacional”, que abordou a importância da comunicação interna nas instituições e o impacto da expressão ou repressão de opiniões no ambiente de trabalho.
Com o encerramento das actividades na sexta-feira, a Escola Superior de Jornalismo reforçou o seu papel como espaço de produção científica e reflexão crítica sobre os desafios contemporâneos da comunicação, do jornalismo e dos direitos humanos em Moçambique. O evento encerrou com uma nota de reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelos investigadores e pela comunidade académica na promoção de um debate plural e construtivo sobre o papel da informação na sociedade moçambicana.


